PAISAGENS, MORANDI E DAREL
Revendo
alguns trabalhos, não tão recentes, que ora posto aqui, acabei por me lembrar
deste episódio que li há algum tempo, quando da exposição de Darel na Graphias,
em São Paulo, reportado pelo curador Nori Figueiredo.
“Segundo afirmativa do artista Darel Valença Lins, em sua primeira
viagem à Europa, a riqueza artística de Roma, o impacto do passado greco-romano
e a Renascença, disponíveis em cada colina, em cada igreja, mais as
experiências das vanguardas o deixaram embasbacado. Tudo estava feito. O
que fazer?
O pulo Recife/Roma, embora via Rio de Janeiro, foi traumático.
Em uma conversa com Morandi, com quem conviveu durante em sua
permanência na Itália, Darel questionou:
“Arte abstrata ou figurativa”?
Morandi respondeu a isso de maneira curiosa:
“Precisamos reencontrar a confiança que perdemos na natureza”.
Aproximando-se de uma janela Darel olhou para a paisagem enquadrada
por ela e insistiu:
“Nesta natureza que vemos”?
Respondeu Morandi:
“Não na que vemos, mas naquela que nós cremos”.
Nasceu aí o olhar que a partir
dos anos sessenta do século vinte criaria, na Espanha, a extensa série de
calcografias chamada de Cidades. As vistas, desenhadas por trama vigorosa, um
entrecruzar de traços que as velam e desvelam, revelam para o embate abstrato
versus figurativo uma sutil solução.
E revivendo este episódio e postando-o aqui fica minha homenagem
a esses dois grandes artistas; ao vigor e sutilezas de seus trabalhos que tem
sempre a dizer e ensinar mais e mais, a cada vez que nos pomos diante deles,
com a mente e o coração. Morandi e Darel.
Cassiano Pereira Nunes
Territórios imprecisos II,
2006,
aquarela s/ papel, 46
x18 cm
Cassiano Pereira
Nunes
Territórios imprecisos XIV,
2006
aquarela s/ papel, 32,1 x 28,5 cm
Cassiano Pereira
Nunes
Entornos do rio XXVII, 2010
aquarela s/ papel, 13,9 x 28,3
cm
Cassiano Pereira
Nunes
As matas XVI, 2011
aquarela s/ papel, 22,9 x 30,9 cm
Nenhum comentário:
Postar um comentário